segunda-feira, outubro 27, 2008

Free-lance


No embalo da minha fotografia literal, onde falei sobre minha necessidade em aprender a ser sozinho, esse final de semana me deu muito material para lidar com isso. Discussões, opiniões, sinais e insights.

Tanto sexta-feira (que fui assistir Fuerza Bruta, que recomendo muito), quanto sábado que fui a um churrasco e outras cositas más a serem explicadas adiante. Conversei com aqueles que estavam comigo em diversas situações sobre o assunto.

No Fuerza Bruta fui com uma amiga de longa data, mas que não conversava sério (e sóbrio) há anos, e foi ótimo. Ela tem uma cabeça completamente diferente da minha, o que hoje em dia acho interessantíssimo. Ela está pra sair de casa e ficar sozinha de verdade pela primeira vez , mas já fez algo que eu nunca tive coragem, viajar sozinha. Sem excursão, curso, ou coisa parecida. O papo foi extenso e diverso, mas ambos concordamos que o problema não é ficar sozinho, e sim ficar o tempo todo com você mesmo. Lidar consigo mesmo não é fácil, é preciso muita coragem e insistência, afinal, tudo que você costumava descontar nos outros, acaba afetando a si próprio.

No sábado fui a um churrasco com amigos mais antigos ainda. Não a toa a tarde foi recheada de saudosismo e escárnio a quem não estava presente. Prova de que estamos velhos. O fato é que, contando com alguns recém-separados como eu, uma hora a conversa ficou séria, e embalada por algumas cervejas, começamos a sessão de terapia em grupo. Uns mais acanhados, outros mais falantes. Mais uma vez, a noção geral era de que ficar consigo mesmo não é fácil. Acordar numa manhã de Domingo, olhar pra parede e se perguntar: “E aí?” O papo foi daqueles sem conclusão, mas que dão um conforto desgraçado em saber que outros passam pelo mesmo que você. Brothers in arms.

Saí do churrasco e fui pra casa. Pensando que não tinha idéia do que faria, e não estava com mínima vontade de ficar em casa. Sabia que estava comigo mesmo, e teria que me contentar com essa companhia. Pensei em ligar para diversas pessoas, mas cada uma tinha um impedimento, me senti um dependente em crise de abstinência. Dependência de pessoas. Mas engoli seco e rumei pra casa, esperando o inesperado.

Quando chego em casa, do céu, também conhecido como twitter, aparece uma oportunidade. Inesperada, inusitada, instigante. Fazer algo que nunca havia feito em toda vida, sair com 4 pessoas que nunca tinha visto, sem saber se gostaria delas, se gostariam de mim, se meus maus hábitos incomodariam ou se o papo delas me incluiriam. Como Deus tem sido um cara muito legal comigo, confiei, e aceitei seu sinal.

O resultado dessa saída é muito maior do que as boas amigas que fiz, de ter dançado que nem adolescente, do que ter recebido um dos elogios mais legais que já recebi na vida. Nessa noite percebi que viver sozinho é como trabalhar free-lance. Ë não ter certeza de que o dinheiro vai entrar, é se arriscar a viver no tédio por meses, é pensar de vez em quando em como era boa a época em que você tinha um emprego fixo.

Trabalhar como free-lance pode te remunerar muito bem num mês, e não te pagar nada no próximo. Mas independentemente de valores, prazos, contratos, alguma coisa sempre vai aparecer, e você não vai morrer de fome por falta de trabalho. Quando precisar de verdade, se for um bom profissional, algo vai aparecer, seja lá de onde for ou como for.

To tentando me acostumar com essa vida de free-lance, por enquanto está fácil, vamos ver como serão os próximos meses.

PS: Valeu Fé, Karen, Maíra e Ana. Perfect Strangers!

5 comentários:

Anônimo disse...

Realmente lidar consigo mesmo não é fácil.
Morar sozinha foi o maior salto em direção ao autoconhecimento. Faz apenas três anos. Três anos conhecendo uma nova mulher. Três anos me curtindo. Três anos tirando lições entre erros e acertos. Três anos que virei minha terapeuta...como é bom me analisar!
PS: Valeu Cris. Perfect stranger.

Kris Arruda disse...

Eu também saí de casa há 3 anos. Mas só agora estou verdadeiramente sozinho.

O espelho é cruel...não deixa vc mentir nem ferrando...hehehe...

Mas também adoro meu auto-analisar. Ô vício.

Anônimo disse...

Viver sozinho não é perfeito, porém absolutamente necessário...
Quando fiz isso, lá no século passado, com então 25 anos, eu descobri outro mundo.
O melhor de tudo isso é que faz vc descobrir realmente quem é vc e do que gosta, mas sobretudo, do que não gosta.
Ficar só é a melhor coisa do mundo e é muito diferente do que ser só.
Eu recomendo...rs...
Só não façam como eu, que ama viver sozinho e vivo casando...rs...
Saco, odeio minha biopolaridade...
MM

Anônimo disse...

Taí um tipo de crescimento ao qual, até o momento, eu não tive acesso. Acredito que ficar sozinho por muito tempo faça a gente perder um pouco da paciência de exercitar o convívio com o outro - que é outra fonte de grande aprendizado. Fiquei curiosa a respeito do elogio...

Kris Arruda disse...

Sem dúvida, ficar sozinho baixa seus níveis de tolerância. Assim é possível que perca essa fonte de aprendizado que é a vida a dois.

Maldito livre arbítrio...