terça-feira, março 28, 2006

Questão de caimento

Não existe mulher feia, nem você que bebeu pouco. Mulheres são diferentes. Só isso. A velha história de que toda panela tem sua tampa faz sentido. Assim o mundo se mantem em equilíbrio. Essa história de feio e bonito só funciona pra classificar foto de revista. No mundo real mais do que o visual da “roupa” o que importa é o caimento.

Muitos procuram pela personificação da própria Vênus de Milo, acham que só podem ter como companheira aquela que todos admiram. Quando conseguem vangloriam-se com os amigos de que pegou "aquela" gostosona. Porém no fundo, muitas vezes você está comprando um terno fabuloso da Ermenegildo Zegna e sapatos Gucci de bico fino, que apesar de te deixar com o visual maravilhoso, deixa seus pés implorando por espaço e não te permite nem coçar as costas. Muitas vezes uma camiseta branca larga e um jeans gasto cairiam melhor.

Todo homem sabe do que estou falando. Tem mulheres que passam na nossa vida, que não se explicam. Você não entende porque se atrai e na verdade nem se preocupa com isso. Como que, por encantamento cai nas suas graças e te leva pras nuvens. Seus amigos não entendem, seus pais olham estranho e sua vó diz que ela tem cara de travesti. Mas você não se importa. Já checou para saber se ela é ou não um travesti.

Os gostos são variados. Muitas vezes até criamos um padrão. Uns gostam de baixas, outros de morenas ou mesmo nipo-germânicas. Eu, por exemplo, sempre fui fã de gordinhas, morenas e patricinhas. Mas sou bem maleável. O cabelo pode ser castanho claro, a roupa pode ser um pouco desleixada de vez em quando. Mas tem que ser gordinha. Nem que seja de cabeça, daquelas que adoram comer. Nunca conseguiria namorar uma vegetariana. É contra meus princípios.

Pense nisso, tenho certeza que se livrando da obrigação de gostar do que todos as coisas vão ficar mais fáceis e satisfatórias. Encontrar a roupa perfeita não é fácil, geralmente tem que ser sob medida, eu achei a minha, não sobra nas mangas, o colarinho não aperta, parece sempre nova e não tem nada mais confortável.

sexta-feira, março 17, 2006

Me bate, me xinga.

Dizem que a mulher ideal é aquela que tem a conduta de uma santa. Em sociedade, não olhe para outros homens, use roupas decentes, fale em voz amena, nunca se exceda. Em sociedade. Entre as quatro paredes de um quarto ou duas paredes, uma porta e um vidro de um elevador panorâmico ela deve ser uma cortesã (em português, puta). Essa mulher não tem preconceitos, topa as aventuras mais loucas e criativas, é aberta a novas experiências. É aberta.

Ok, digamos que você ache uma mulher ideal. Uma mulher que deixe você colocar aquilo naquilo enquanto faz aquilo outro. Uma mulher que grite, me bate, me xinga, me chama de bandida. Você agüenta o tranco? Na hora em que se deparar com uma louca dessas é que se analisa bem o que pediu. Vai descobrir se estava pronto pra isso. Afinal não basta haver esse “desapego” apenas por parte dela, você precisa acompanhar o movimento, entrar no ritmo. Você pede pra ela colocar uma lingerie diferente, daquelas que ninguém sabe onde é a frente e a traseira. Ela põe. Você pede para ela falar obscenidades das brabas. Ela fala. E de repente ela pede pra você. “Me bate com força seu canalha”. Você broxa. Ser pego desprevenido pode causar esse tipo de reação.

Uma experiência conjunta é menos traumática. Transformar sua mulher neste sonho de consumo é uma ótima opção. Os tabus são abandonados juntos. A fase de adaptação é como viver a adolescência de novo. Quando você é adolescente cada beijo é uma descoberta. Primeiro o beijo na bochecha, depois o “mostra a sua que eu mostro o meu”, seguido do selinho, da língua, mão na cintura, mão perto da bunda, mão em uma nádega inteira, apertão em uma nádega inteira e por aí vai. Isso faz-nos acreditar que nossos namoricos eram mais excitantes do que muita transa ordinária. A adaptação ao sexo sem tabus é uma nova adolescência. Você terá vontade de chegar contando para os amigos como nos velhos tempos: “Caras, vocês não sabem, hoje eu dei uma com a minha mina. E uma amiga dela junto”. Não faça isso. Não conte pros seus amigos, já sobre a história da amiga dela, meus parabéns.

Com o tempo as coisas se tornam mais comuns, o processo pode parecer estranho, errado até, mas assim como você superou a perda de sua virgindade, isso também será resolvido. O processo pode até ser difícil, mas não há dúvida que vale a pena.

Dito isso desejo para todos nós uma mulher ideal, que nos ensine e aprenda conosco, que grite baixarias, que transpire desejo, divida a cama com outra, mas que nunca, nunca mesmo, em hipótese alguma, meta o dedo onde não for chamada.

quinta-feira, março 09, 2006

Tudo pelas cavernetes

O Homem das cavernas era atlético. Sujo e peludo, porém atlético. Afinal, todo dia ele corria pelas árvores, escalava pedras e capturava com suas próprias mãos o alimento da família. A mulher o esperava com a caverna prontinha, mesmo porque não tinha muito que se fazer nela além de desenhos nas paredes. O fato é que ele era atlético e as “cavernetes”, se é que posso chamar as mulheres das cavernas assim, adoravam.

Hoje não precisamos mais buscar nosso próprio alimento, o delivery faz isso por nós, todavia, para agradar as “cavernetes” modernas o corpo atlético continua sendo requisitado. A solução foi malhar. Na academia, no futebol, no boxe. Os esportes amadores nos proporcionam justamente o que nós, machos modernos, precisamos. Preparo físico. Analisemos as opções então. No futebol nunca me dei bem, o boxe minha mãe acha violento (desagradar mãe é o oitavo pecado capital). São Paulo tem academias fantásticas, porém ainda não me acostumei a idéia de me exercitar olhando fixamente para uma parede. A solução ideal foi o parque.

Moro próximo do Parque do Ibirapuera que é um dos locais mais importantes da cidade de São Paulo. É uma cidade pequena do interior no meio da selva de pedra. Seguro, tranqüilo, cheio de árvores e estrumes de cavalo esporádicos. Nada traumático. Ainda que esteja habituado ao ritmo da metrópole aprecio muito esse oásis que nos é oferecido.

Fui para o parque preparado, tênis especial para corrida com super amortecimento, shorts confeccionados com tecido tecnológico que o faz mais leve, camiseta que mantém a temperatura do corpo agradável e iPod no braço, com direito a mais de quatro dias de música ininterrupta, ainda que não pretendesse ficar mais do que duas horas por lá.

Logo que coloquei o pé na pista me pus a correr, como meus ancestrais, atrás da minha presa. Logo as árvores já pareciam deformadas e o lago aparentava esvaziar tamanha a velocidade com que os ultrapassava. Era como se fôssemos um só, eu e o parque. A energia, o solo me empurrando para frente, o ar. Bastaram dois minutos para minha presa fugir. Meu fôlego na verdade. As árvores já voltaram ao normal e o lago não esvaziava mais, ainda que aparentasse desaguar de rir da minha situação patética. O solo já não me ajudava tanto, na verdade parecia segurar meus passos, o ar sumiu de vez. O resto do tempo andei. Fiquei de mal do parque. Não me rendi. Compensei nas flexões, fiz duas, junto dos oito abdominais me credenciei muito mal para ir atrás de minha própria comida. Quem sabe alcançaria um Scargot.

Mas tudo tem um começo não é? Aposto que o homem das cavernas não saiu da caverna pela primeira vez e já trouxe um mamute de almoço. Observando minha experiência acredito que nós, machos modernos, não devemos nos cobrar tanto, com o tempo melhoraremos nosso desempenho, físico e quem sabe até o relacionamento com o parque. Enquanto não agarramos nossa presa podemos levar as cavernetes pra jantar. Mas de preto para disfarçar a barriga.

* Texto publicado na revista Absoluta Gente de Janeiro de 2006