quinta-feira, março 09, 2006

Tudo pelas cavernetes

O Homem das cavernas era atlético. Sujo e peludo, porém atlético. Afinal, todo dia ele corria pelas árvores, escalava pedras e capturava com suas próprias mãos o alimento da família. A mulher o esperava com a caverna prontinha, mesmo porque não tinha muito que se fazer nela além de desenhos nas paredes. O fato é que ele era atlético e as “cavernetes”, se é que posso chamar as mulheres das cavernas assim, adoravam.

Hoje não precisamos mais buscar nosso próprio alimento, o delivery faz isso por nós, todavia, para agradar as “cavernetes” modernas o corpo atlético continua sendo requisitado. A solução foi malhar. Na academia, no futebol, no boxe. Os esportes amadores nos proporcionam justamente o que nós, machos modernos, precisamos. Preparo físico. Analisemos as opções então. No futebol nunca me dei bem, o boxe minha mãe acha violento (desagradar mãe é o oitavo pecado capital). São Paulo tem academias fantásticas, porém ainda não me acostumei a idéia de me exercitar olhando fixamente para uma parede. A solução ideal foi o parque.

Moro próximo do Parque do Ibirapuera que é um dos locais mais importantes da cidade de São Paulo. É uma cidade pequena do interior no meio da selva de pedra. Seguro, tranqüilo, cheio de árvores e estrumes de cavalo esporádicos. Nada traumático. Ainda que esteja habituado ao ritmo da metrópole aprecio muito esse oásis que nos é oferecido.

Fui para o parque preparado, tênis especial para corrida com super amortecimento, shorts confeccionados com tecido tecnológico que o faz mais leve, camiseta que mantém a temperatura do corpo agradável e iPod no braço, com direito a mais de quatro dias de música ininterrupta, ainda que não pretendesse ficar mais do que duas horas por lá.

Logo que coloquei o pé na pista me pus a correr, como meus ancestrais, atrás da minha presa. Logo as árvores já pareciam deformadas e o lago aparentava esvaziar tamanha a velocidade com que os ultrapassava. Era como se fôssemos um só, eu e o parque. A energia, o solo me empurrando para frente, o ar. Bastaram dois minutos para minha presa fugir. Meu fôlego na verdade. As árvores já voltaram ao normal e o lago não esvaziava mais, ainda que aparentasse desaguar de rir da minha situação patética. O solo já não me ajudava tanto, na verdade parecia segurar meus passos, o ar sumiu de vez. O resto do tempo andei. Fiquei de mal do parque. Não me rendi. Compensei nas flexões, fiz duas, junto dos oito abdominais me credenciei muito mal para ir atrás de minha própria comida. Quem sabe alcançaria um Scargot.

Mas tudo tem um começo não é? Aposto que o homem das cavernas não saiu da caverna pela primeira vez e já trouxe um mamute de almoço. Observando minha experiência acredito que nós, machos modernos, não devemos nos cobrar tanto, com o tempo melhoraremos nosso desempenho, físico e quem sabe até o relacionamento com o parque. Enquanto não agarramos nossa presa podemos levar as cavernetes pra jantar. Mas de preto para disfarçar a barriga.

* Texto publicado na revista Absoluta Gente de Janeiro de 2006

Um comentário:

Anônimo disse...

Pegar um mamute não é fácil mesmo... Deve ser por isso que tantos deles estão solteiros!