quinta-feira, junho 29, 2006

20 e poucos...

Cada vez mais ouço que os 20 e poucos anos são os melhores da sua vida. É a época que que se alcança o melhor equilíbrio entre independência e responsabilidade.

Pertenço a tal faixa etária, sou um homem moderno, comprometido, moro sozinho, estou cercado de amigos. A felicidade total me espera...

Agora só falta eu comunicar isso a comgas, eletropaulo, telefonica, imobiliária, prefeitura, lavanderia, postos de combústivel...

quarta-feira, junho 14, 2006

Jantar a dois

Você descobre que não é um macho tão moderno quando, ao preparar um jantar a dois:

- Pega forno elétrico emprestado da mãe

- Bebe vinho em copo de refrigerante

- Coloca as velas e a manteiga no mesmo tipo de recipiente que, na verdade, é feito para abrigar amendoins

quinta-feira, junho 08, 2006

Elas com elas

Sou uma pessoa que evita as convenções. Simpósios também, mas isso não vem ao caso. Se todos usam preto, quero o branco. Se todos ouvem Jazz ouço Polka. Se todos vão para um lado vou para o mesmo para não ser atropelado.Todavia, em um aspecto específico, apenas vou com a maré, sento na janela do bonde, sou um “Maria-vai-com-as-outras”. Quando se trata de fantasia sexual, sou comum e mundano, tradicional, não projeto nenhuma loucura fora dos padrões, quero o que qualquer homem adulto brasileiro deseja: Uma relação com duas mulheres, bissexuais.

Bissexuais. Não me engano no termo. Muitos se referem aos elementos dessa fantasia como um homem e duas lésbicas. Engano comum. Um homem e duas lésbicas resultariam no máximo em duas mulheres embrenhadas em beijos, toques e afagos, observadas por homem, boquiaberto, num canto do quarto. Ainda que o interesse por tal fantasia exista, não a coloca no topo da lista. No segundo lugar talvez.

Talvez seja por causa de nossas mães. Freud, provavelmente, explicaria assim, esse nosso desejo de nos relacionar com duas mulheres ao mesmo tempo. Mas eu discordo. Minha mãe não tem nada a ver com isso, aliás, ela é a última coisa que passaria pela minha cabeça num momento desses. Quem sabe primas.

Quem sabe não haja explicação. Pode ser inútil perguntar. Um homem quando escala o Everest só entende o sentido de tudo que fez quando chega ao cume. Só o cume interessa. A jornada serve pra encher lingüiça, contar vantagem, o cume é que traz a revelação. Esta por sua vez, fica guardada para o alpinista. Não se sabe a razão. Pode ser porque a experiência seja transcendental, coisa do eu com o eu-mesmo sabe. A batalha contra o insucesso, o medo, a dor. Ás vezes é uma lei universal, só saberão o porquê aqueles que chegarem aqui em cima. Ou talvez não seja nada interessante o suficiente pra ser contado. Algo do tipo: “Nossa, é alto mesmo”.

Mesmo assim, todos querem o cume. O desafio é tentador demais para ser deixado de lado. Já ouvi esses palestrantes de auto-ajuda dizerem que cada um tem seu próprio Everest. O de 99% dos homens é um ménage-a-trois, os restantes são alpinistas.

segunda-feira, junho 05, 2006

Expresso

Não acredito na teoria de que, o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil. As culturas são extremamente diferentes, o poder aquisitivo nem se compara, além é claro da habilidade com a bola nos pés. Porém, uma mania americana está cada vez mais próxima de se tornar brasileira. Os Cafés. Os estadunidenses são loucos por café, a ponto de formarem imensas filas nas portas dos Starbucks (gigante rede de cafeterias americana) por toda a nação. O brasileiro contando com a vanguarda paulista está tomando gosto pela coisa, ainda que, trocando os “chafés” extremamente fracos por encorpados expressos e preterindo o gordinho muffin por um discreto pão de queijo.

Na terra da garoa, chovem novas cafeterias a cada dia. O Fran´s Café foi um dos primeiros, com cardápio de cantina de escola, conquistou os paulistas aos poucos com uma infinidade de opções, além do grande atrativo de funcionar 24 horas por dia. Salvação do homem moderno nas madrugadas. Boêmio e faminto. Há também outros estabelecimentos do ramo que se destacam cada vez mais; como o não politizado Café Suplicy e o pecaminoso Santo Grão. Cada um com sua particularidade.

Característica comum a maioria, importada dos gringos, são as redes Wi-Fi. Estas redes sem fio possibilitam a conexão com a Internet de qualquer lugar do café, desde que seu dispositivo seja compatível com a tecnologia. Direto de sua confortável poltrona você pode trabalhar a vontade em seu notebook ou PDA favorito. Nada melhor para o homem que precisa trabalhar em trânsito. Enviar e-mails, acessar redes externas, consultar informações ou efetuar transações. Tudo isso num ambiente calmo e descontraído. Sem falsas promessas ou necessidades forçadas, a modernidade aqui é objetiva, facilita nossas vidas, ao ponto de não sabermos mais o que faríamos sem ela.

Esquecendo o corporativismo, o café moderno tem aplicações pessoais inegáveis. Arrisco dizer que é o melhor ponto de encontro já inventado. O ambiente é agradável, muitas vezes tem poltronas mais confortáveis que sua própria cama, o que invariavelmente nos faz pensar que precisamos de uma cama nova. Os atendentes são bem apessoados e nunca te “botam para fora” do estabelecimento. Se for a opção, pode-se gastar pouco, tanto dinheiro quanto calorias, afinal, café é barato e não engorda (falando do puro com adoçante é claro). Com uma neutralidade que beira o insípido, o Café agrada a gregos e troianos, caracterizando o “point” como um coringa. Não sabe onde ir, vá a um café. Caso esteja flertando com alguém peça um Moccha, doce e diferente. Se a companhia for uma namorada preste a ser dispensada tente um Café gelado, nunca se sabe qual vai ser sua reação e café quente queima. Já se for uma dessas conversas sérias com o sogro prove um Irish Coffe mesmo. Amargo e alcoólico.

Independente do uso coletivo, o que admiro mais nos cafés atuais é a possibilidade de aproveitá-los sozinho. Sem depender de ninguém. Nunca fui bom nisso, as pessoas olhando pra mim se perguntando porque eu estaria desacompanhado. Eu, incomodado, ficava fingindo que alguém ia chegar ou então fingia ligar para alguém. Mas não me sinto assim nos cafés modernos, seja com meu livro ou notebook me sinto a vontade com os outros companheiros solitários, aproveito o máximo de mim. Ponho as idéias no lugar. Tente você também. Escolha seu café. O meu é puro e com açúcar. Como a vida deve ser.

* Texto publicado na revista Absoluta de Maio de 2006