segunda-feira, junho 05, 2006

Expresso

Não acredito na teoria de que, o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil. As culturas são extremamente diferentes, o poder aquisitivo nem se compara, além é claro da habilidade com a bola nos pés. Porém, uma mania americana está cada vez mais próxima de se tornar brasileira. Os Cafés. Os estadunidenses são loucos por café, a ponto de formarem imensas filas nas portas dos Starbucks (gigante rede de cafeterias americana) por toda a nação. O brasileiro contando com a vanguarda paulista está tomando gosto pela coisa, ainda que, trocando os “chafés” extremamente fracos por encorpados expressos e preterindo o gordinho muffin por um discreto pão de queijo.

Na terra da garoa, chovem novas cafeterias a cada dia. O Fran´s Café foi um dos primeiros, com cardápio de cantina de escola, conquistou os paulistas aos poucos com uma infinidade de opções, além do grande atrativo de funcionar 24 horas por dia. Salvação do homem moderno nas madrugadas. Boêmio e faminto. Há também outros estabelecimentos do ramo que se destacam cada vez mais; como o não politizado Café Suplicy e o pecaminoso Santo Grão. Cada um com sua particularidade.

Característica comum a maioria, importada dos gringos, são as redes Wi-Fi. Estas redes sem fio possibilitam a conexão com a Internet de qualquer lugar do café, desde que seu dispositivo seja compatível com a tecnologia. Direto de sua confortável poltrona você pode trabalhar a vontade em seu notebook ou PDA favorito. Nada melhor para o homem que precisa trabalhar em trânsito. Enviar e-mails, acessar redes externas, consultar informações ou efetuar transações. Tudo isso num ambiente calmo e descontraído. Sem falsas promessas ou necessidades forçadas, a modernidade aqui é objetiva, facilita nossas vidas, ao ponto de não sabermos mais o que faríamos sem ela.

Esquecendo o corporativismo, o café moderno tem aplicações pessoais inegáveis. Arrisco dizer que é o melhor ponto de encontro já inventado. O ambiente é agradável, muitas vezes tem poltronas mais confortáveis que sua própria cama, o que invariavelmente nos faz pensar que precisamos de uma cama nova. Os atendentes são bem apessoados e nunca te “botam para fora” do estabelecimento. Se for a opção, pode-se gastar pouco, tanto dinheiro quanto calorias, afinal, café é barato e não engorda (falando do puro com adoçante é claro). Com uma neutralidade que beira o insípido, o Café agrada a gregos e troianos, caracterizando o “point” como um coringa. Não sabe onde ir, vá a um café. Caso esteja flertando com alguém peça um Moccha, doce e diferente. Se a companhia for uma namorada preste a ser dispensada tente um Café gelado, nunca se sabe qual vai ser sua reação e café quente queima. Já se for uma dessas conversas sérias com o sogro prove um Irish Coffe mesmo. Amargo e alcoólico.

Independente do uso coletivo, o que admiro mais nos cafés atuais é a possibilidade de aproveitá-los sozinho. Sem depender de ninguém. Nunca fui bom nisso, as pessoas olhando pra mim se perguntando porque eu estaria desacompanhado. Eu, incomodado, ficava fingindo que alguém ia chegar ou então fingia ligar para alguém. Mas não me sinto assim nos cafés modernos, seja com meu livro ou notebook me sinto a vontade com os outros companheiros solitários, aproveito o máximo de mim. Ponho as idéias no lugar. Tente você também. Escolha seu café. O meu é puro e com açúcar. Como a vida deve ser.

* Texto publicado na revista Absoluta de Maio de 2006

3 comentários:

Anônimo disse...

adoro o clima dos cafés americanos. ainda bem que os brasileiros resolveram adotar esse estilo. É sempre gostoso entrar em um café e se sentir acolhida. É... agora só falta a neve mesmo, para ficar tudo perfeito.
te amo. beijos

Anônimo disse...

Morri de rir com a história do café gelado! Boa, Cris! Muito boa!
Me deu até vontade de um espresso! Beijo, van

Anônimo disse...

A melhor coisa dos cafés é poder permanecer num estabelecimento comercial sem ser expulso porque tomou só uma xicrinha durante a tarde toda. É o mais acolhedor que se pode ser num mundo capitalista.

Logo mais, veremos surgir a primeira filosofia genuinamente brasileira, gerada num café por algum solitário bem acomodado numa poltrona macia. Será a comunhão do bistrô europeu com o café americano.