quarta-feira, outubro 22, 2008

Free Fallin


Já é antiga minha crença de que só se é livre de verdade sozinho. Ainda que eu não ache que para ser completamente feliz, precisa-se ser completamente livre. Abro mão de um pedacinho da minha liberdade para ter uma ótima companhia. Não a toa namorei quase 7 anos seguidos (2 anos e meio + 4 anos e 2 meses), e não me arrependo de um só dia.

Porém, estar completamente livre é sempre interessante. Quando me encontro nessa situação, minha maior angústia é meu maior prazer: Não saber o que vou fazer. Namorar por muito tempo me deixou acostumado a não ter que pensar no que ia fazer, afinal, sempre faria algo similar. Acordava, ligava pra namorada, ia buscar e decidíamos o que faríamos. Se não tivéssemos nada marcado geralmente comíamos alguma coisa e íamos pra minha casa. Se tivéssemos algo marcado, bem, se tivéssemos, honrávamos nossos compromissos. E tudo estava muito bem.

Quando nos sentíamos muito entediados (sempre existe essa fase) experimentávamos algo novo. Uma balada, uma peça ou uma viagem inusitada. Mas pensando no namoro inteiro essas ocasiões representavam pouco. Claro que isso é sintoma de comodismo. Afinal lembro que no começo dos namoros, a vida é muito mais agitada (mesmo que acompanhada) do que no meio dos relacionamentos.

As razões desse comodismo não são exatas. Acredito que em relacionamentos padrão, exista uma adaptação natural de sua vida de solteiro deixada pra trás. Em vez de cortar o cordão umbilical de vez, vamos nos libertando (ou aprisionando) aos poucos. Vemos que as outras pessoas estão em outra sintonia e que não podemos as acompanhar mais em tudo.

O fato é que, após o fim de um relacionamento, fazemos o caminho contrário. Temos que relembrar como são os antigos procedimentos, as antigas sensações. O estranhamento, naturalmente pode causar a sensação de que se trocou uma vida ótima por uma em que você simplesmente não se encaixa. Mentira.

Estar livre é mais fácil do que o contrário. A falta da necessidade de dar e receber satisfação, rapidamente deixa de ser um “menos” para ser um “mais”. A impressão de o mundo ser todo seu começa a invadir sua vida e de repente, quando você está distraído, está sorrindo como há tempos não sorria. Não é um sorriso melhor ou pior do que os que dava enquanto se relacionava, só diferente mesmo.

Viver livre deixa a vida mais imprevisível do que já é. Transforma suas expectativas em migalhas, sejam estas altas ou baixas. Ser livre é conhecer, encontrar, experimentar, tudo sem planejamento, e numa intensidade incrível.

Na minha recém-liberdade, venho provando o gosto de tudo isso. Ás vezes é amargo, ás vezes salgado, ás vezes entala na garganta e em outras você se empanturra até explodir. Independente do sabor, é muito bom exercitar o paladar.

5 comentários:

Rodrigo disse...

Aberto aos diferentes sabores da vida, velhinho.

Sabe o que me veio à cabeça agora? Será que na vida (em geral, tanto faz solteiro ou não) o que falta sometimes é justamente estar aberto a essas coisas?

Óbvio, mudar de uma condição pra outra traz (até forçosamente) muita novidade. Mas será que o ponto não está no observador, e não na novidade?

Saboreie. :-)

Kris Arruda disse...

Com certeza Volpa. A diferença é que acompanhado tem que fazer um esforço danado...e sozinho é meio que natural...mas dá sim...

Vc é um desses que consegue...já eu...

Francisco disse...

É isso mesmo Kris!!! Hahahaha como eu posso dizer que entendo essa degustação!!!

Cada dia é um dia... E a sensação de "liberdade" é muito estranha mesmo. Mas é o que vc falou. o mundo de repente passa a ser todo seu! Do nada você deixa de ser a dupla e passa a ser protagonista total da sua vida. Tem seu lado bom!!! Eu também tô nesse caminho, aos trancos e barrancos... Mas cada vez melhor!

Abraços!

Anônimo disse...

Lendo seu texto lembrei do filme (que tb é livro) into the wild.

a liberdade questionada no filme é, talvez, diferente da sua... com certeza te deixara pensando sobre o que é liberdade...

Kris Arruda disse...

Olá anônimo, dá uma olhada o que escrevi sobre esse filme aqui ó http://www.machomoderno.com.br/2008/02/desapego.html

Esse filme mexeu (muito) com a minha cabeça...