sexta-feira, novembro 07, 2008

Minha árvore


Demorou muito tempo para eu poder escolher minha família. Até certa idade tinha uma que havia herdado no dia de meu nascimento. Completamente heterogênea e incompatível, como a maioria das famílias. Quanto ao heterogênea sem problemas, acho que essa é uma das características mais importantes e ricas de uma família. Já o incompatível sempre me incomodou.

Quando virei dono do meu nariz, comecei a selecionar quem eu queria que fizesse parte da minha família de verdade. Minha família de sangue compõe minha árvore genealógica, mas como fruto, num belo dia amadureci e caí no chão. Fiquei ao relento até minhas sementes cravarem o chão e começarem uma nova árvore. Nessa nova árvore cresço do meu jeito, a partir do meu fruto, que sem dúvida tem herança genética da velha árvore, mas é diferente.

Minha família escolhida parece um ornitorrinco do mundo das plantas. Não se parece com nenhuma outra árvore, mas aos meus olhos é perfeita. Cada dia que passa cresce mais um pouco, seus galhos entrelaçam entre si e em alguns casos alcançam as árvores vizinhas.

Mas falando só da minha por enquanto, nela encontro meus amigos. Cada galho é uma turma, cada fruto uma pessoa. Quem amadurece cai e assim como eu pode voltar a se encontrar entre as folhas. Outros apodrecem e somem. Tento cada dia mais formar uma copa densa e espessa. Como um pinheiro, que tem os galhos próximos, quase inseparáveis, indistinguíveis.

A um lado, minha árvore genealógica invade minha escolhida. Com meu pai, mãe, irmã, meus primos-irmãos, minha vó e alguns outros poucos. Estes cada vez mais se parecem com frutos da minha árvore escolhida. Não são mais entediantes como antes. Enxergo em cada um motivo claro para fazer parte da minha vida, independente de parentesco.

Do outro lado nem sempre tem alguma coisa. Por muito tempo tive árvores vizinhas, que timidamente raspavam em meus galhos. Os frutos destas nem sempre combinavam com os meus, mas a partir do momento que perco o contato com seu tronco lá se vão todos os frutos. Os que gosto ou não. Nesta árvore ficam minhas namoradas e suas famílias é claro.

Assim vou levando, construindo minha própria árvore escolhida, até um dia fundi-las em uma só. Criando minha própria árvore genealógica. Acredito que esta será próxima da perfeição. Mesmo que meus filhos não concordem.

4 comentários:

Anônimo disse...

Kris, a máquina de escrever posts.

Anônimo disse...

Kris.. que perfeito!

Gostei demais do texto, viajei..

Beijo

Anônimo disse...

Saiba a lei da vida: Amar, Sofrer, Viver; ou se preferir: Viver,Amar, Sofrer. A perfeição está muito longe dos seres humanos portanto,viva! aceitando as imperfeições dos outros e as suas.

Eterna Aprendiz disse...

Concordo em Gênero, Número e Grau!
Amei o texto!!!