quarta-feira, novembro 12, 2008

Independente da dependência


Ontem encontrei uma amiga que há tempos não conversava. Na verdade, acredito que nunca havia conversado tanto com ela na vida. Ela é de fora de São Paulo e logo após nos conhecermos, perdemos contato. Como está passando uma temporada aqui pelas nossas terras, resolvemos tomar um café para colocar o papo em dia. E quanto papo.

A peguei no trabalho e nos três primeiros quarteirões, já percebemos que ainda que nossas vidas tenham tomado rumos completamente diferentes, nossa realidade, nossas indagações eram as mesmas. Eu morando sozinho e solteiro e ela morando sozinha fora de sua cidade tínhamos dois pontos em comum. Lidar com a solidão e a dependência.

Lidar com a solidão já é assunto batido por aqui. Não poder contar com alguém 100% do tempo, não ter o porto seguro, seja ele a família, a turma ou namorada(o). Mas no caso da dependência, que está intimamente ligada com a solidão, tivemos discussões interessantes.

Todos passamos, em algum momento, por situações em que nos perguntamos se dependemos de outra pessoa para ser feliz. Eu passei algumas vezes e independente da resposta, sabia que isso era inaceitável. Já faz tempo que tenho convicção de que não podemos colocar nossa felicidade nas mãos de outras pessoas. Precisamos nos bastar.

Mesmo com essa consciência, vira e mexe, por aqui mesmo, me questiono sobre a necessidade ou não em ter alguém. Não consigo ignorar que sinto falta de alguma coisa, que preciso de mais do que já tenho sozinho. Como amigos e família estão razoavelmente presentes, a conclusão óbvia é de que falta um amor.

Mas esmiuçando isso com minha amiga, ambos concordamos que na grande maioria das vezes, apesar de projetarmos alguém, não é esse alguém em específico de que sentimos falta. Sentimos falta do alguém genérico. Queremos uma pessoa e ponto. A projeção é baseada em nossas experiências recentes, em modelos próximos de ideais, mas que por algum motivo não vingaram.

A prova disso, se consegue com um exercício simples. Basta trocar, no momento desse sentimento de falta, a pessoa projetada por modelos parecidos. Se pensar que seria tão bom quanto, ta provado que o genérico serve, se não, é caso mal resolvido em sua cabeça mesmo.

Sentir falta de alguém genérico não é sinônimo de dependência de pessoas e sim de sentimentos. Se sentir cuidado, seguro, amado. Ás vezes apenas saber que alguém está pensando em você, se preocupando onde você está. Por instinto sempre nos agrupamos, vivemos em bando, mas num mundo onde cada vez mais temos que nos separar para crescer, saber que alguém está pensando em você é o melhor remédio para solidão.

2 comentários:

Eterna Aprendiz disse...

Dizer que alguém é feliz sozinho, que a gente precisa ser feliz pra encontrar alguém é batido, ridículo, coisa de livro idiota.

Eu não sei ser feliz sozinha, preciso da minha família, das minhas amigas e dos meus amigos, dos meus animais de estimação e de estar sempre com alguém (ou a fim de...)

Pronto falei. É isso!

Anônimo disse...

Acho que a questão aí não é ser ou não feliz sozinho... por mais que a teoria seja boa, sabemos ser impossivel.
Talvez a questão central é ser inteiro e não rasgar a identidade ao meio e entregar nas mãos do outro.
Dá pra ser feliz sem depender... mas se for inevitável (como parece ser para a leitora Fernanda) melhor que dependa dos animais de estimação... eles são sempre mais leais...rs.
Dizer ou tentar afirmar o contrário, é não enxergar as pessoas como elas são, é não ver que tudo vai bem apenas quando convém ao outro. Discussão eterna...
Para ter a prova, basta esperar por coisas desagradáveis como heranças e doenças. Aí, os amigos e familiares se revelarão... as máscaras caem.
O Kris disse certo, depender dos sentimentos sim, das pessoas não. Esse é o ponto.
Belo texto amigo!
MM