quinta-feira, dezembro 04, 2008

Silhueta



Hoje não consegui escrever, daí achei esse texto perdido nos arquivos. Li e achei bom, então não custa publicar.



Cheguei em casa e já era amanhã. Uma faixa dourada no horizonte me lembrou você. Não que você a notaria, mas o súbito interesse em saber porque não notava como eu. Eu apontava maravilhado, mas você só se maravilhava com o meu rosto.

Cheguei em casa pensando em ontem. Qual “ontem” não tem importância, era apenas o referencial do que passou pros sentidos mas não pros sentimentos. Ontem peguei sua mão que apesar de não estar ainda é. Sua mão fazia a minha melhor.

Cheguei em casa e negava o hoje. Hoje não existe nada, não existe eu ou você, existe a lembrança do que foi e do que poderia ter sido. Hoje, eu queria que fosse ontem e desdenhava do amanhã. Mesmo que ontem não tenha sido perfeito, sei que amanhã também não será.

Em casa me sinto fora, a faixa dourada se foi e sobrou o lençol amarrotado. Ele vai tentar, mas nunca será páreo para seus braços. Ele pode tentar me esquentar, me envolver, me receber. Mas nunca me livrará do frio, do desolamento, do vazio.

Na cama eu sou só carne. Minha alma anda por aí, procurando o rumo, sem saber muito bem para onde. Nem por isso pára de andar, ás vezes tenta achar o caminho de casa, outras pega a estrada para longe daqui. Eu aguardo, não mando, não ordeno, apenas espero, quem sabe um dia acorde e esteja deitada comigo.

Sinto sua falta. Sinto que era o que me fazia e tenho medo de nunca mais ser. O sol não deixou de brilhar, continua invadindo minhas pálpebras preguiçosas, continua revelando o que sou, continua clareando minha calçada só não sei muito bem pra que.

Cheguei em casa e já era amanhã. Uma faixa dourada acabou de esvair no horizonte. A luz é tênue, derrama-se sobre os lençóis amarrotados, que caprichosos compõem uma silhueta. Não sou eu, não é você, é apenas uma silhueta que por si só ficará lá por alguns minutos. A cada dia esses minutos diminuirão, pouco a pouco, até mudar a estação, até minha alma voltar e tomar seu lugar.

3 comentários:

Eterna Aprendiz disse...

Que demais!
Quem é o autor?

Bjosssssss

Kris Arruda disse...

Ieu mesmo Fê.

Anônimo disse...

Só uma coisa tenho certeza: ela volta a tomar seu lugar. Sempre volta.
(ainda que isso não importe ou faça sentido agora)