sexta-feira, dezembro 02, 2005

Drenagem adrenada

É batata. Expressão antiga para dizer que algo era certo, lógico, sem dúvida. Assim como a expressão, as coisas que ela definia estão em extinção. O mundo dinâmico nos trouxe a necessidade de diversificar e diferenciar tudo mas não necessariamente ao agrado de todos. É preciso moderação quando se pensa em experimentar alguma coisa. Algo que aparentemente é inofensivo pode causar traumas irreparáveis.

Massagem, no universo masculino, por muito tempo foi batata. Quer agradar um homem? Que maneira melhor do que lhe tilinteando com os dedos e outras partes mais? Com a opção de finalização manual ou entre os seios melhor ainda. Porém sinto em dizer que mais um item do nosso universo deixou de ser batata. A maca, não mais é um lugar seguro e muito menos um refúgio de seus problemas. Inventaram a Drenagem Linfática.

O processo engana o mais escolado dos machos. As clínicas se encontram nos bairros tradicionais, Moema, Campo Belo, Itaim, a atendente esterilizadamente bem vestida, a maca é a mesma, branca e estreita.

Deitado em maca esplêndida, vestindo sua cueca de festa, como se ela fosse apenas mais uma da gaveta, você aguarda. Em alguns minutos irá se refestelar, ser Pachá por exatamente uma hora. Nada melhor do que receber uma massagenzinha e ainda diminuir alguns centímetros de barriga ao mesmo tempo. Lei do mínimo esforço.

O início é similar a qualquer massagem, o gel aquecido na temperatura de um banho de inverno , as mãos firmes em seu pescoço, pressionando seu omoplata como fosse uma massa de pizza. Você relaxa. Basta um segundo relaxado para as coisas se transformam. As mãos antes leves como penas, agora pesam como patas, a toalha que fazia companhia para o umbigo se refugia na virilha, deixando umbigo ali, sozinho, encurralado. Com movimentos contínuos a massagista aperta sua pança de cima para baixo em direção a suas axilas. Nem pense em dar risada que isso não tem nada de engraçado. Pequenos murros são dados em seus pneus laterais. Provável que o namorado da carrasca tenha chegado tarde ontem a noite, ela precisa aliviar o stress. Depois de certo momento a dor fica mais suportável e você relaxa o quanto pode. Mas... As coisas mudam, agora você é contemplado com novos movimentos e técnicas. Com o nó do dedo médio a massagista stressada pressiona seu corpo como uma criança que rabisca o papel. Até rasgar. Nesse momento você não tem dúvidas que o namorado além de chegar tarde, ainda trouxe com ele aquele cheiro de perfume barato. Você pode tentar aguentar calmamente e não esboçar reação porém por dentro você sabe que nesse momento, não passa de uma menininha.

Ok, pode virar de bruço.

Agora fica bem mais fácil, não que doa menos, mas enfim sua cara pode se desconfigurar a vontade a cada apertão, a única testemunha será o piso de cerâmica cinza claro. O procedimento é o mesmo, as sensações e pensamentos também, com a execção de que ao sentir-se rabiscado mais uma vez, se chega a conclusão final de que o namorado da massagista não só chegou tarde em casa envolto em uma nuvem de “Angel” genérico. Para essa intensidade de raiva é certo que no mínimo tinha uma calcinha vermelha no bolso.

Não lembro direito como terminou o tratamento, pois acredito que o choque tenha me causado amnésia temporária, porém lembro muito bem da hora de pagar.

Depois desse dia voltei mais 9 vezes, ao consultório da massagista manos de piedra. Ainda que pareça uma idiotice voltar para um lugar onde se teve uma experiência tão dolorosa, o tratamento tinha que ser terminado. O resultado deu pra ser notado, perdi alguns centímetros de cintura, muitos reais da conta corrente e um tiquinho de orgulho próprio.

2 comentários:

Anônimo disse...

hahaha. descreveu muito bem! a diferença é que nós, mulheres, podemos reclamar a vontade e ninguem acha estranho né? mas a sensação é das piores mesmo...
mas faz uma diferença incrivel!!!
te amo!

Anônimo disse...

Quase uma experiência sadô-masô?