quarta-feira, agosto 02, 2006

Ambientes

O ritual do acasalamento é diferente para cada espécie, cada ser vivo tem seu próprio, cheio de particularidades. Em algumas espécies de inseto, por exemplo, após o coito a fêmea pode simplesmente arrancar a cabeça de seu parceiro. Decapitações a parte, podemos encontrar pontos em comum em tais rituais. O cortejo, o ato e caso seja descuidado a gestação. Mas se temos que começar por algum fator, que seja a aproximação. Deve ser num canto mais escondido e calmo da floresta, a luz de vagalumes ou é melhor apelar para uma árvore point, onde a sedução e a paixão, assim como as teias, estão no ar.

Transportando para nosso mundo, pensamos se um bar do badalado bairro de Moema possa servir de árvore point. As conversas paralelas nos colocam num liquidificador de situações. In loco, podemos perceber pela experiência dos outros, o que funciona e o que não. Os chopps indo e voltando, os garçons passando, a música ao vivo, todo esse caos organizado que nos obriga a chegar mais perto uns dos outros a fim de nos entendermos. Primeiro os joelhos se encostam, e a partir daí um o constante desconforto físico contrasta com o conforto mental. A fala mole, o éter, a porção de bolinhos de carne seca, tudo isso assistindo um primeiro beijo apaixonado que emudece todo o ambiente, por esse instante o recinto parece parar e observar mais um caso de amor nascendo, bem ali, na esquina da mesa número 27.

Talvez você ache que o primeiro encontro deva ser feito à moda antiga. Um restaurante do charmoso Centro da cidade pode servir de cenário perfeito para os próximos Romeu e Julieta de nossa história. Sem a parte do veneno é claro. Aqueles que são seduzidos pela nobre arte do jantar a dois podem se deliciar com uma massa leve, acompanhada de movimentos milimétricos para o encontro de duas mãos no meio da quadriculada toalha de mesa. Um vinho também serve a ocasião. O álcool que molha os lábios é o mesmo que os embebeda de hospitalidade. Tudo para encerrar a noite com o beijo de boa noite original, aquele que começa de lado, mas que se endireita com os braços que cruzam as costas da pretendida. O caminho não é fácil como parece, mas a recompensa é válida.

Prestando mais atenção nos documentários do Discovery Channel, podemos perceber que os ambientes escolhidos pelos animais, para a reprodução são diversos, extrapolam os limites da imaginação, na folha, na chuva, na dispensa ou numa casinha de sapê os casais acabam se entendendo, se amam do melhor jeito que existe, sem preocupação. Copiemos então nossos parentes do reino animal, o sucesso parece ser garantido. Tirando os insetos é claro.

* Texto publicado na Revista Absoluta Junho/2006

Um comentário:

Anônimo disse...

Caramba! Então os insetos machos literalmente perdem a cabeça por suas fêmeas! Ai tadinhos!
adorei! te amo. beijosss