terça-feira, abril 04, 2006

O que os homens querem?

A poluição visual é tema recorrente no mundo inteiro e São Paulo não foge a regra. Os outdoors, backlights e cartazes que empapelam a cidade são um problema. Até que ponto nossos olhos são obrigados a ver o que os publicitários querem mostrar? Se o pior cego é aquele que não quer ver, por muitas vezes eu não vejo um palmo a frente de meu nariz Mais do que as propagandas eleitorais estampando a face dos dinossauros da política, mais do que os multi coloridos anúncios das Casas Bahia que oferecem as menores parcelas (ainda que em maior quantidade), a comunicação externa que tem que ser combatida com mais urgência, que mais fere a integridade visual das pessoas e que ofende mais do que qualquer uma é a propaganda de cueca.

A mais nociva imagem aos olhos do Macho Moderno, sem dúvida alguma é a propaganda de cueca. Quem nunca teve a experiência traumática de num promissor dia de sol e bom humor, no trânsito a caminho do trabalho se deparar com a imagem do Daniel, cantor sertanejo, vestindo apenas uma “cuequinha” na imensa janela traseira de um ônibus. Não é questão de homofobia ou insegurança com a sexualidade, mas sim uma questão de respeito ao consumidor. O cantor sertanejo, que até admiro no âmbito musical, não pode ser considerado argumento de venda em hipótese alguma nesse tipo de produto masculino. Ainda que seja de extrema importância conhecer o corte e caimento da peça em questão, a personificação de tal em uma celebridade só nos afasta da idéia de adquirir tal produto. A imagem residual do anúncio afasta qualquer possibilidade de conseguir se olhar no espelho trajando a tal cueca.

Os publicitários podem argumentar que muitas vezes, quem decide o que vai estar dentro das calças dos homens são as mulheres. Assim com esse tipo de anúncio são elas a quem eles atingem. O poder de decisão de compra é fator de primeira importância nas estratégias de marketing dos fabricantes, afinal o interessante é seduzir o cliente que decide e não necessariamente o que usa. Porém, será que tal comportamento não acaba sendo forçado pelas próprias agências de propaganda? Acostumadas com os valores sociológicos de outrora, acabam não dando opção ao homem que deseja trocar aquelas antigas cuecas do estilo “minha-mãe-comprou-pra-mim” por modelos que realmente o agradem. Só falta ele achar.

Outro dia, antes de uma viagem internacional entrei num site de uma das melhores fabricantes de underwear do mundo, com o objetivo de pré-selecionar minhas compras. Aproveitando o passeio pela América queria comprar cuecas de qualidade e renovar a cansada primeira gaveta de meu armário. Acessei o site, na minha sala de trabalho, aproveitando que havia voltado mais cedo do almoço. Ao clicar no link de produtos encontrei uma porção de homens seminus fazendo caras e bocas, cheios de charme pra cima de mim. Eu gosto de cuecas, não de homens. A visão desagradável acabou com meu dia, um pouco por ter desanimado quanto as peças pretendidas, porém muito mais pelo fato de ter percebido minha chefa atrás da minha mesa durante toda a navegação.

Pensando em situações desagradáveis como esta, apelo aos senhores publicitários, vendam o produto para nós, tentem nos mostrar o queremos ver, agradem nossas vistas, não pode ser tão difícil assim, vocês já fazem tantas coisas bonitas, veja os anúncios de lingerie, maravilhosos.

* Texto publicado na Revista Absoluta de Março de 2006

2 comentários:

Anônimo disse...

Concordo plenamente

Anônimo disse...

hahaha. o daniel é mesmo péssimo, ainda mais na parte da manhã.
adorei o texto.
te amo... :o)
beijos