quinta-feira, outubro 08, 2009

525.600 minutos.


É esse o tempo que me resta de vida. Fui lá no medico e o danado sentenciou. Um ano. Nem um dia a mais ou a menos. Engraçado como nunca temos 3 meses e 22 dias de vida. Sempre 1 ano ou 6 meses. Dei sorte.

Após o baque, chororô e revolta cheguei ao momento que todos chegamos quando temos um ano de vida. E aí? O que farei com o tempo restante? Afinal, tendo prazo de validade, nem presunto fica parado. Rapidinho vira mistura para omelete.

Comecei a pensar em tudo que queria fazer antes de morrer. Tudo que não poderia fazer falta na minha experiência de vida. Rapidamente percebi que “Ter”, não seria um verbo recorrente na lista. Qual o valor em ter algo quando o calendário é uma contagem regressiva para transformação em pó? O máximo que pode-se almejar nessa situação é uma urna, ou um caixão bacana daqueles dos filmes americanos.

A lista, no meu caso, começou com lugares e eventos que sempre desejei presenciar, experimentar. O primeiro foi assistir uma aurora boreal. Aquele fenômeno que acontece perto dos pólos, onde partículas de “sei lá o que” se chocam com a atmosfera e criam luzes no céu similares a grande parte dos protetores de tela do mundo. É besta? Talvez, mas eu sempre quis.

Egito. Sempre foi um dos lugares que quis visitar. Apesar de só ter ido para os Estados Unidos a vida inteira, e não ser fanático por velharia, conhecer as pirâmides é necessário. Pelas dimensões, pelos credos, por ver exatamente a mesma coisa que humanos de quatro mil anos atrás viram.

A lista de lugares cresceu e percebi que teria que planejar uma volta ao mundo. Tudo bem. Um ano.

Enquanto planejava, podia ir agilizando as coisas que podia fazer por aqui mesmo. Saltar de paraquedas, dirigir uma Ferrari, me apresentar para um grande público e curtir o aplauso. Entre outras coisas.

Conforme a lista foi tomando forma, percebi que grande maioria dos itens poderiam ter sido realizados há anos. Me perguntei porque nunca os realizei e imediatamente identifiquei os suspeitos usuais. Falta de tempo e dinheiro.

Gente morrendo fica impiedosa (honesta) com sigo mesmo e com o mundo, portanto logo percebi que gastei muito dinheiro com besteira e muito tempo com...bem....com nada. As únicas “faltas” que poderiam ser culpadas por eu nunca ter realizado esses grandes desejos da minha vida eram a falta de vergonha na cara e de força de vontade.

Mas, eu estou morrendo, vinte minutos já se foram, não podia perder mais tempo.

No dia seguinte da terrível consulta ia pra Boituva, saltar de paraquedas, e logo depois já estava agendado o aluguel de uma Ferrari 430 pra passar o feriado. Mês que vem começaria minha volta ao mundo, o cronograma ia respeitar as melhores épocas de cada local. Na mala, algumas peças de roupa e só. Sem computador, sem celular. Não podia perder tempo. Lá se foi mais um minuto.
Percebi então como tive sorte em ser sentenciado de morte. Em saber que daqui há um ano não poderia fazer mais nada disso. Podia aproveitar enquanto há tempo, por mais que não fosse muito. Fiquei feliz em ter tido essa sorte, imagina só se esse fosse apenas um texto fictício, onde percebo que não estou vivendo e tenho grande chance de continuar culpando a falta de tempo e dinheiro pelas minhas frustrações.


* Este texto foi inspirado pelos dois filmes abaixo.






E essa é a excelente música que "cedeu" o título a esse texto.



7 comentários:

MM disse...

Absolutamente perfeito!!!!
Tema perfeito e mais, vou aproveitar a ideia e escrever sobre no meu Blog.
PArabéns...
E que vc tenha 100 anos pra realizar tudo isso. E sei que vai!
Abraço amigo escritor de mão cheia!
MM

Fê disse...

Ameiiiiiiiiiiiii!!!!!!!!
Mil anos que não passava aqui!!
É isso aí: "vamos viver tudo o que há pra viver, vamos nos permitir"... "vamos viver cada dia como se fosse o último".
Vamos viver com paixão, intensamente, aproveitarmos tudo... não temos tempo a perder... e oportunidades surgem sempre!! Basta que estejamos antenados para percebê-las!!


Beijosssssssss

JKT disse...

Cara. =O
Se pensar a fundo não fazemos "nada" em nossas vidas. Não temos "tempo" para nada. Família, amigos, viagens, e quando damos o devido valor, na maioria é tarde.

Parabéns pelo texto irmão.

Mônica disse...

Hum...logo se vê que é um texto fictício.
Pensando bem, todo mundo vai morrer, seja lá em um minuto, seis meses ou muitos anos. Decididamente é um texto de verdade...não que eu acredite que esse escritor recebeu essa sentença.
Mas eu queria muito saber se o cara vai realizar a lista dele.
Da minha parte agradeço pelo toque...fico tão desesperada com essa lista que só penso em ficar com a minha filha. Vou dormir pra ver se amanheço com uma listinha...

Kris Arruda disse...

Mônica, não é pra ficar desesperada. Mas é bom lembrar disso de vez em quando né?

Mônica disse...

Pois é, tô intrigada com esse assunto...voltei aqui. Agradeço a gentileza da sua resposta. Porém desculpe mas não tá sendo bom pra mim não...o dia já tá acabando e a minha lista continua vazia. Deve ser porque eu tô achando que tenho muitos anos de vida...e dessa vez eu também tô achando bem desagradável envelhecer. Eu quero viver muito e não quero envelhecer...não é possível, então será que eu quero morrer?

Kris Arruda disse...

Olha Mô. Morrer não é opção...hehehe... Mas a partir do momento que vc diz que quer viver muito, pode cortar a opção de querer morrer já...rs...

Envelhecer não é fácil. Lidar com isso. Mas acho que é o tipo de coisa que aprendemos durante o processo. Só a maturidade dos anos nos ajuda a aceitar isso e aproveitar da melhor maneira.

O que podemos evitar é envehecer por dentro, buscando novas motivações sempre. No seu caso que tem uma filha, é mais fácil ainda. Ainda não sou pai, mas cansei de ouvir de muitas pessoas que o sentido das coisas muda muito quando temos um filho. Sei que isso aconteceu pra vc, portanto, além disso vc ainda pode buscar todos os desejos que teve no passado. Ver se eles não te fariam bem nesse momento.

Acho que esse é um bom começo...