sexta-feira, maio 12, 2006

A ferramenta certa

Nada como relembrar nossos ancestrais quando temos um problema e assim superarmos com méritos unicamente próprios os obstáculos que a vida nos traz. O macho pré-histórico não tinha delivery, nem visita do técnico. Quando muito um bichinho morria em frente a sua morada e olhe lá. Mas nada além de um esquilo mal nutrido ou uma tartaruga cascuda. Superficialmente as necessidades obviamente mudaram, mas no fundo o que queremos quando ligamos pra pizzaria é a comida. O homem pré-histórico, não conhecendo o serviço de entrega, ou apenas não sabendo do imã de geladeria promocional, no mundo de hoje teria que sair de casa, ir pulando até o estabelecimento, quebrar a porta de entrada, quebrar alguns ossos dos humanos que estivessem na espera, bater com a clava na cabeça do pizzaiolo e arrastar a redonda até em casa. Nós sabemos que isso é um desperdício de energia. Porém existem circunstâncias em que a situação se inverte. Precisamos nós mesmo fazer o serviço sujo. Como? Fácil! É só ir até uma “mega store de construção”.

Nos serviços de casa estamos muito bem cobertos por tais lojas. Em São Paulo, por exemplo, existem uma porção delas, que vendem os mais diversos aparatos para a resolução de problemas domésticos. Não pense no entanto que são lojas comuns. Falamos de aqui de hangares de material: tampas de privada, sifões, espelhos de tomada, prateleiras e “Tês”. Ou benjamins. Na primeira vez que entrei numa dessas, tive certeza que errei em não dizer “Eu te amo” pra minha namorada na última ligação. Com certeza nunca mais sairia de lá vivo e que uma vez no meio daquelas gôndolas, o celular não teria mais recepção. Porém, para meu alívio, em um lugar coberto de profissionalismo e técnica não poderiam faltar técnicos profissionais. Estes, além conhecer cada pecinha de seu estoque também podem lhe indicar aonde ir e como não se perder. Estão prontos a te atender a hora que for – algumas “mega stores” funcionam 24 horas por dia. Portanto, deu uma dor de barriga durante a noite e não ficou satisfeito com o desempenho do vaso, é só correr pra lá.

Dia desses recorri a essa maravilha. Não ao vaso. Ou melhor, ao vaso também, mas prefiro não falar de tal assunto. Fui até uma dessas lojas. Um dos técnicos me ajudou a achar o setor de prateleiras. Após passar por três navios aparentemente naufragados e todos os personagens de Lost (que não me surprenderam em estarem lá), peguei três prateleiras de madeira, brancas, fixadas por três grossos pinos, de ferro, que por sua vez eram fixados por dois parafusos cada. Fácil.

Quando comecei a instalação percebi que precisaria de ajuda. Independente de ser um macho moderno que respeita seus ancestrais, reconheço quando não sou capaz de executar um serviço sozinho. Era um pouco mais complicado do que parecia. Tábuas de um metro e meio de largura não são fáceis de se segurar sozinho. Era um trabalho para dois. Um executava e o outro coordenava. “Isso, assim, continua, mais força.”. Gritei bastante. Após 1 hora e meia de trabalho duro e quatro reclamações por barulho incabíveis num domnigo, os nove pinos estavam fixos. O trabalho de encaixar as prateleiras ficou para mim. Três furos, três pinos, é só encaixar.

Infelizmente, não foi assim, o fabricante não especificou que a distância dos pinos tinha que ser exatamente igual a dos buracos, afinal o que são dois centímetros de diferença? Mas tudo bem, vou na loja e resolverei isso como um homem: chamo um técnico profissional e trago ele pra casa. Nem que seja a tapa.

* Texto publicado na Revista Absoluta de Abril 2006

2 comentários:

Anônimo disse...

caramba como a vida do macho moderno é difícil!!! eu teria chamado o técnico logo que pensei em comprar as prateleiras.
Mas tá certo. tem que tentar sozinho. valeu a pena né? foi um programa divertido em um domingo :o)
te amo. beijos

Anônimo disse...

Prateleiras, a aventura continua...