Infância. Na mesa, sempre rolavam abobrinhas, chuchus e fígados. Eca. Credo. Caca. Mas era batata: meu pai pegava esses trecos, jogava no meu prato, e ficava olhando a minha cara, depois da primeira garfada.
“Experimenta, moleque!”
“Humpf…. grrr… eca… não gostei, pai”
“É PRA COMER TUDO!”
E ficava no meu pé, o almoço inteiro, até eu engolir tudinho.
Um belo dia, no alto dos meus 7 anos de experiência de vida, tive uma idéia.
“Experimenta, moleque!”
“Humm… é, gostoso, pai”
Ele ficava satisfeito, continuava almoçando, e não enchia o saquinho de ninguém. E eu só precisava dar a primeira garfada, ele nem se importava com o resultado final do prato, que invariavelmente tinha sobras — grandes! — de abobrinhas, chuchus e fígados.
Isso durou um bom tempo. Quase um mês. Até o dia em que ele percebeu, pela minha cara marota, que tinha pilantragem no ar. “Gostoso, pai”. Ele olhou pra minha cara, viu que eu não gostava mesmo, e que tinha dado um baile nele, durante um bom tempo. E deu uma pusta risada.
Desse dia em diante, “Gostoso, pai” virou piada à mesa. E senha pra dizer “puta, eu odeio esse chuchu!”.
Por Rodrigo Volponi
PS: Força irmão!
Um comentário:
2 forças.
Postar um comentário