Não existe dúvida, seja você usuário ou não, o efeito de narcóticos (ou tóXicos, como diz meu pai) é extremamente agradável. Não é a toa que tantas pessoas no mundo se viciam. Seja para esquecer os problemas, enxergar o mundo com outros olhos ou puro entretenimento, drogas causam sensações que não podem ser replicadas. Não na mesma intensidade, com a mesma eficiência.
Essa é a parte boa, todos sabem também da parte ruim. Quanto mais alto a droga te leva, maior será a queda. Invariavelmente, para se recuperar de um tombo recorre-se a droga novamente, e assim se cria o vicio.
Alguns relacionamentos são assim, tóxicos. Contém todos os mesmos efeitos e conseqüências, qualidades e defeitos de qualquer narcótico de uso recreativo. Mas disfarçados de amor e paixão, passam batido. Não há alerta dos malefícios, não tem campanha na TV, os pais não recriminam, e os artistas adoram romancear. Ao mesmo tempo que levam ao êxtase, amortecem e acalmam, não dão a menor idéia do preço que há de se pagar. Causam as piores ressacas, crises de abstinência torturantes e dependência extrema.
Se livrar dessa dependência é tão difícil e doloroso quanto se desintoxicar de narcóticos. Sem poder apelar a uma clínica, durante a crise de abstinência, improvisa-se com livros, filmes, sorvete, amigos, e não coincidentemente, drogas. Tudo para preencher o vazio, pra substituir o “barato” do relacionamento tóxico. Assim como qualquer viciado, nem ao menos um pouco da droga pode ser consumida, o corte tem de ser radical, nenhum contato com aquele que fez tão bem. E tão mal.
Atravessado o inferno da desintoxicação, o organismo está limpo, resquícios ínfimos de toxina, o coração bomba sangue a todo vapor. Algum tempo em observação e se está pronto pra outra. Sim, outra, porque é pra isso que estamos aqui, certo? Viver, e não existe vida sem risco. Agora no entanto, com uma cicatriz, daquelas que incomodam nos dias de frio, que não deixam esquecer o que a causou e como foi o processo de recuperação.